A coincidência levanta suspeitas entre munícipes em Setúbal: dois apoiantes do PSD só foram nomeados para a Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS) depois de terem integrado as listas da candidatura independente de Maria das Dores Meira à Câmara Municipal. A situação está a gerar debate político e dúvidas sobre eventual tráfico de influência — matéria que compete exclusivamente ao Ministério Público apurar.
O Governo nomeou, a 28 de julho de 2025, o novo Conselho de Administração da APSS, que acumula também funções na liderança do Porto de Lisboa. O novo presidente para o mandato 2025-2027 é Vítor Caldeirinha, enquanto Nuno Viterbo assume como vogal.
Nomeações em Dores Meira após entrada nas listas
Segundo a candidatura de Dores Meira, Caldeirinha surge como número quatro da lista à Assembleia Municipal, e Viterbo ocupa o sexto lugar da lista à Câmara Municipal. Foi apenas depois de assumirem estas posições que ambos foram designados para a liderança da APSS, através de despacho assinado pelo ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, dirigente do PSD, e pelo secretário de Estado do Tesouro e Finanças, João Silva Lopes.
Linha temporal dos acontecimentos
11 de março de 2025 – A concelhia do PSD em Setúbal rejeita por unanimidade apoiar Dores Meira. 12 de março de 2025 – A decisão é comunicada formalmente à direção nacional do partido. 4 de julho de 2025 – O ministro Miguel Pinto Luz desloca-se a Setúbal e declara que o apoio nacional à ex-autarca comunista é “irreversível” e tem o aval do primeiro-ministro. Julho de 2025 – Caldeirinha e Viterbo passam a constar oficialmente nas listas de Dores Meira. 28 de julho de 2025 – O Governo nomeia os dois para a liderança da APSS.
É esta sequência de factos — integração nas listas seguida da nomeação para cargos estratégicos — que desperta suspeitas de munícipes e motivou questionamentos sobre eventuais ligações entre apoio político e nomeações públicas.
Remunerações e funções anteriores
Antes da nomeação, Caldeirinha desempenhava funções como técnico especialista no gabinete do ministro das Infraestruturas, auferindo 3.981,49 euros brutos mensais. O ministério confirmou que a cessação das suas funções foi enviada para publicação em Diário da República com efeitos imediatos na véspera da posse.
O anterior presidente da APSS recebia 4.922,84 euros brutos e 1.969,14 euros em despesas de representação, números que demonstram a relevância e o peso político do cargo agora ocupado por Caldeirinha.
Debate em Setúbal
O Instituto Mundial de Ciências esclarece que apenas reuniu e cruzou informações públicas, disponíveis no Diário da República e em vários órgãos de comunicação social, sem emitir qualquer acusação. A eventual existência de ilícitos cabe ao Ministério Público avaliar.
Ainda assim, a coincidência temporal entre apoio político e nomeações para cargos de topo da administração portuária promete aquecer o debate local em Setúbal, num contexto em que autárquicas e gestão de infraestruturas estratégicas se cruzam num mesmo tabuleiro.