A entrada do cantor Toy, natural de Setúbal, na lista de Maria das Dores Meira para a Câmara Municipal de Setúbal, tem levantado dúvidas e polémicas. Conhecido sobretudo pela sua carreira artística, sem qualquer experiência política ou ligação à administração pública, Toy surge agora como candidato a vereador pelo movimento independente liderado pela antiga presidente da Câmara, numa decisão que críticos classificam como um ato populista, pensado para captar simpatia popular e votos fáceis.
Contratos recorrentes com a Câmara durante mandato de Dores Meira
Ao longo dos últimos anos, Toy esteve entre os artistas mais presentes em feiras e eventos municipais organizados pela Câmara de Setúbal durante os 14 anos de mandato de Maria das Dores Meira (CDU). A frequência de contratações levantou críticas de favorecimento, sobretudo por ocorrer quase sempre em certames locais, festas populares e eventos institucionais da autarquia.
Após a saída de Dores Meira da presidência da Câmara, o número de atuações do artista em eventos promovidos pelo município diminuiu, o que reforça a perceção de proximidade política entre o cantor e a antiga presidente.
Outras polémicas ligadas à candidatura de Dores Meira
A candidatura de Maria das Dores Meira à Câmara de Setúbal tem estado envolvida em diversas polémicas e suspeitas, algumas já alvo de questionamento público e mediático.
Entre os casos mais comentados está a nomeação de pessoas ligadas à sua lista para cargos de administração da APSS – Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra. As designações foram vistas como uma extensão da influência política da antiga autarca em instituições estratégicas da região, levantando suspeitas de favorecimento político.
Outro episódio gerou contestação quando a Câmara de Setúbal, ainda sob sua liderança, celebrou um contrato de gestão do Ecoparque do Outão com uma empresa criada apenas um dia antes da assinatura. A contratação, feita durante o período de férias, não passou por reunião de Câmara nem por assembleia municipal, levantando sérias dúvidas sobre a transparência do processo.
Há ainda registos de reembolsos processados em nome da ex-presidente em que, segundo críticas, surgem incongruências, incluindo deslocações em que aparece alegadamente em dois países diferentes ao mesmo tempo, situação que gerou forte contestação política.
O discurso populista de Toy
Toy, ao lado de Dores Meira, chegou a afirmar no lançamento da candidatura independente que “só uma mulher sabe cuidar de uma cidade”. A frase foi recebida como populista e considerada por vários setores como um recurso fácil à emoção e à imagem pessoal da candidata, em vez de uma proposta objetiva para a gestão municipal.
Toy nunca exerceu qualquer cargo na administração pública: não foi vereador, deputado municipal, deputado da Assembleia da República, presidente de junta de freguesia ou dirigente de órgãos autárquicos. A sua entrada direta numa lista à Câmara, sem histórico de participação política ativa ou experiência administrativa, é vista como incoerente por parte da opinião pública.
Uma candidatura rodeada de suspeitas
Assim, a presença do cantor na lista de Maria das Dores Meira é apenas mais um elemento que reforça o caráter controverso da candidatura. Entre contratações públicas sob suspeita, nomeações de aliados políticos para cargos estratégicos, contratos celebrados em condições duvidosas e registos de reembolsos questionados, a candidatura da ex-presidente chega marcada por um conjunto de polémicas.
O apoio e a entrada de Toy, apesar da sua notoriedade local, reforçam a imagem de que se trata de uma candidatura com forte apelo populista, mas com poucas bases de experiência política ou administrativa que justifiquem confiança para gerir os destinos de Setúbal.