Apesar de a candidatura independente de Maria das Dores Meira ter conquistado a Câmara Municipal de Setúbal, o Partido Socialista (PS) obteve mais votos totais e mais eleitos nas diferentes instâncias do concelho, demonstrando um equilíbrio de forças políticas e um cenário municipal profundamente dividido.
No total das três eleições — Câmara Municipal, Assembleia Municipal e Assembleias de Freguesia — o PS somou 45.446 votos, superando a lista independente de Dores Meira, que obteve 44.180 votos.
Na disputa pela Câmara Municipal, Dores Meira conquistou 16.524 votos e elegeu quatro vereadores, vencendo o PS por uma margem de apenas 1.338 votos, já que os socialistas alcançaram 15.186 votos, também com quatro eleitos.
Na Assembleia Municipal, o resultado foi praticamente um empate técnico: o movimento independente alcançou 14.713 votos e dez deputados eleitos, enquanto o PS obteve 14.670 votos e igualmente dez eleitos.
Já nas Assembleias de Freguesia, o cenário inverteu-se completamente. O PS conquistou 15.590 votos e 23 eleitos, enquanto a candidatura de Dores Meira somou 12.943 votos e 19 eleitos, não conseguindo eleger nenhum presidente de junta.
Câmara Municipal: vitória apertada e divisão interna
Na Câmara Municipal, o movimento independente liderado por Dores Meira obteve uma vitória por curta margem, elegendo quatro vereadores — o mesmo número do PS. Esta diferença mínima, contudo, não garante maioria funcional, o que poderá dificultar a governabilidade no novo mandato.
A divisão interna deixa Dores Meira isolada, com quatro eleitos da sua lista e sem garantia de apoio dos restantes vereadores, o que poderá inviabilizar a atribuição de pelouros a parte dos eleitos e comprometer a gestão política nos próximos meses.
Assembleia Municipal: equilíbrio e risco de isolamento político
Na Assembleia Municipal, o resultado foi praticamente um empate técnico. Apesar de Dores Meira ter superado o PS por apenas 43 votos, o equilíbrio entre as forças políticas pode favorecer os socialistas na eleição do presidente da Mesa da Assembleia Municipal, cargo que será decidido por votação secreta entre todos os membros eleitos na sessão de instalação.
Analistas políticos apontam que a própria condução da campanha de Dores Meira, marcada por um discurso de distanciamento em relação aos demais partidos e pela rejeição pública do apoio do PSD — partido que a apoiou nacionalmente, mesmo após a decisão contrária da concelhia de Setúbal —, reforça a tendência de isolamento da ex-autarca na Assembleia Municipal. Esse posicionamento poderá abrir caminho para uma maior influência e eventual domínio do PS nas deliberações do órgão, fragilizando politicamente a lista independente eleita.
Freguesias: domínio do PS e colapso da candidatura independente
A maior surpresa ocorreu nas juntas de freguesia, onde o PS conquistou as três maiores freguesias do concelho — incluindo São Sebastião, a mais populosa — e a CDU venceu nas restantes. O movimento de Dores Meira não conseguiu eleger nenhum presidente de junta, obtendo apenas 12.943 votos e 19 eleitos para as assembleias de freguesia, contra 15.590 votos e 23 eleitos do PS.
Em São Sebastião, Dores Meira foi inclusive superada pelo Chega, um revés simbólico e político relevante para a ex-autarca, que governou Setúbal durante mais de uma década.
Cenário político e desafios futuros
O resultado das eleições revela uma “meia vitória”: embora tenha recuperado a presidência da Câmara, Dores Meira enfrenta fortes limitações políticas e jurídicas. A possibilidade de vir a ser constituída arguida em processos judiciais em curso — somada à ausência de maioria e à perda de influência nas freguesias — pode fragilizar o início do novo mandato.
O futuro político de Setúbal dependerá da capacidade de diálogo entre as forças concorrentes. Com a Câmara dividida, a Assembleia sem maioria e as freguesias sob domínio socialista e comunista, o próximo ciclo autárquico promete ser um dos mais complexos e imprevisíveis da história recente do concelho.
