Maria das Dores Meira tomou posse esta quinta-feira como presidente da Câmara Municipal de Setúbal, eleita pelo movimento independente “Setúbal de Volta”, após vencer as eleições autárquicas de 2025. A cerimónia decorreu no Fórum Municipal Luísa Todi, perante uma plateia repleta de apoiantes, representantes políticos e autarcas eleitos.
No discurso de investidura, Dores Meira celebrou a vitória frente à CDU e afirmou que o resultado expressa “a vontade do povo setubalense” em dar continuidade ao seu projeto político iniciado há duas décadas, agora em formato independente. A autarca destacou a resiliência do seu movimento e agradeceu aos voluntários e candidatos que a acompanharam durante a campanha.
“Sou uma mulher livre, com direito a escolher, traçar e mudar o rumo. Ao longo de duas décadas dei provas da minha entrega à causa pública, que é para todos, todos, todos”, declarou Dores Meira, num dos momentos mais aplaudidos da cerimónia.
A nova presidente da Câmara de Setúbal assume o cargo num contexto político e judicial delicado. Dores Meira está sob suspeita de uso indevido de dinheiros públicos durante o período em que presidiu à autarquia anterior, um processo que se encontra em investigação pelas autoridades e que poderá, a qualquer momento, levá-la a ser constituída arguida. O caso, que motivou denúncias anónimas e gerou ampla cobertura mediática, tem estado no centro do debate local desde o início da campanha eleitoral.
No discurso de posse, sem mencionar diretamente as suspeitas, Dores Meira fez referências indiretas às investigações, afirmando confiar na justiça e sublinhando o direito à defesa e à honra pessoal.
“Deixo às autoridades a responsabilidade de avaliarem se há motivo para processo. Cada cidadão tem o direito à defesa da sua honra, mas isso, como já lhes disse, não é notícia, porque falta-lhe sangue”, afirmou, numa crítica aos órgãos de comunicação social que, segundo a autarca, “preferem o picante de uma suspeição a uma boa notícia”.

Apesar do tom vitorioso, o discurso de Dores Meira deixou de fora referências a um dado político relevante: no conjunto das três eleições — Câmara Municipal, Assembleia Municipal e Assembleias de Freguesia — o Partido Socialista (PS) somou 45.446 votos, ultrapassando os 44.180 obtidos pela lista independente “Setúbal de Volta”.
Na corrida à Câmara Municipal, Dores Meira conquistou 16.524 votos e quatro vereadores eleitos, superando o PS por uma margem de 1.338 votos — os socialistas obtiveram 15.186 votos, igualmente com quatro eleitos. Contudo, o resultado global revela um concelho politicamente fragmentado e com forças equilibradas.
A distribuição de mandatos na Assembleia Municipal reforçou esse equilíbrio: o movimento independente alcançou 14.713 votos e dez deputados eleitos, enquanto o PS obteve 14.670 votos e o mesmo número de representantes.
Já nas Assembleias de Freguesia, o cenário inverteu-se completamente. O Partido Socialista conquistou 15.590 votos e 23 eleitos, enquanto a candidatura de Dores Meira somou 12.943 votos e 19 eleitos, não conseguindo eleger nenhum presidente de junta em todo o concelho.
O movimento “Setúbal de Volta” também foi derrotado na eleição para a presidência da Mesa da Assembleia Municipal. O candidato apoiado por Dores Meira, David Martins, foi ultrapassado por Paulo Lopes, do PS, que venceu com mais do dobro dos votos e assumiu a presidência da Mesa.
No seu discurso, Dores Meira agradeceu ainda o apoio do PSD e do CDS-PP, que integraram o movimento independente, e sublinhou a redução da abstenção em 9,63 pontos percentuais face a 2021 — de 57,86% para 48,23% — como “prova de que o povo saiu de casa para votar pela mudança”.
A nova configuração política do concelho indica, contudo, que o próximo mandato será marcado por negociação constante e por um equilíbrio delicado de forças entre o movimento independente e o Partido Socialista, que mantém a maioria dos eleitos no território setubalense.
 
											


 
								







 
											

