Após 24 anos de governação contínua da CDU em Setúbal, o novo mandato autárquico traz uma realidade inédita: o partido comunista perde a presidência da Câmara Municipal, mas mantém um papel determinante como força de oposição. Nuno Costa, agora único vereador eleito pela CDU, afirmou que será “praticamente impossível” aceitar qualquer pelouro caso a presidente eleita, Maria das Dores Meira, tente incluir a coligação comunista no executivo.
“Seria quase inultrapassável aceitar um pelouro com Dores Meira”
Em entrevista ao Setúbal Notícias, Nuno Costa foi claro ao traçar os limites da CDU neste novo ciclo:
“Tendo em conta o afastamento do ponto de vista programático que existe entre a CDU e o movimento liderado por Dores Meira, seria muito difícil, se não impossível, encontrarmos pontos em comum. Os acordos são feitos em cima de ideias e, neste momento, não há aproximação possível.”
O vereador explicou que não houve qualquer convite formal por parte do movimento Setúbal de Volta, de Dores Meira, para integrar o executivo, e considerou essa ausência de diálogo como natural:
“Eles próprios sabem que há um afastamento grande na visão que têm para o desenvolvimento do concelho. Nós defendemos valores e políticas que não se cruzam com os de uma maioria apoiada por forças da direita, como o PSD e o CDS.”
“Continuamos a ter uma enorme responsabilidade com Setúbal”
Apesar da perda da Câmara, Nuno Costa defende que a CDU mantém um papel essencial na defesa do interesse público e na continuidade de projetos estruturantes que marcaram as últimas décadas:
“A CDU deixou de ser poder, mas continua a ter uma enorme responsabilidade. Transformámos este concelho, deixámos uma visão de desenvolvimento que ainda está em curso e há um conjunto de obras e projetos que queremos ver concluídos.”
Entre as intervenções mencionadas estão o Centro de Saúde da Bela Vista, o Pavilhão das Manteigadas, o Centro Cultural e o Mercado de Azeitão, e ainda infraestruturas nas freguesias do Sado e da Gâmbia–Pontes–Alto da Guerra.
“Vamos fazer tudo para que estas obras se concretizem, porque correspondem à visão que a CDU trouxe para o concelho — um desenvolvimento harmonioso e equilibrado em todo o território.”
Reconstrução e autocrítica
O novo vereador reconhece que o resultado eleitoral obriga a um processo de reflexão interna, apontando falhas na comunicação e nas dinâmicas internas do partido:
“Falhámos, certamente. Essa é uma reflexão que está a ser feita pelo coletivo partidário. Houve dificuldades de comunicação e também divisões internas que tiveram impacto no resultado. Mas a CDU é um coletivo, e é em conjunto que vamos corrigir erros e reconstruir a confiança dos setubalenses.”
Nuno Costa define como objetivo central reconquistar a Câmara Municipal dentro de quatro anos, com uma atuação baseada no trabalho de proximidade, na clareza das propostas e na defesa de políticas públicas justas:
“Será uma tarefa difícil, mas não impossível. Em grupo, com ideias novas e um discurso renovado, vamos mostrar o valor do que a CDU construiu e do que ainda pode oferecer à população.”
Oposição firme, mas construtiva
Mesmo mantendo distância do executivo, Nuno Costa garante que a CDU avaliará de forma responsável todas as propostas que beneficiem o concelho:
“Não faremos oposição cega. Tudo o que contribuir para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos será analisado com seriedade. Mas integrar um executivo apoiado pela direita está fora de questão.”
Com a tomada de posse marcada para 30 de outubro, a CDU inicia uma nova fase da sua presença política em Setúbal — fora do poder, mas com um papel ativo na oposição, reafirmando os seus princípios e deixando claro que não trocará coerência ideológica por conveniência política.
 
											



 
								







 
											

