O executivo da Câmara Municipal de Setúbal, liderado por
André Martins (CDU), tem promovido com entusiasmo o volume de investimentos
realizados no concelho durante o atual mandato (2021-2025), alegando que foram
aplicados 30 milhões de euros em áreas cruciais como saúde, educação,
habitação, desporto e mobilidade. No entanto, a análise dos números e a
ausência de resultados visíveis no terreno levantam sérias questões sobre a
eficiência destes investimentos, especialmente com as eleições autárquicas de
2025 no horizonte.
A Estratégia de Último Ano
Embora os 30 milhões de euros em investimentos sejam
apresentados como um marco na história de Setúbal, há uma clara intenção
política por trás deste esforço de comunicação. A concentração de obras e
inaugurações programadas para o último ano de mandato sugere que o executivo
está a preparar o terreno para as próximas eleições. Muitas destas obras, como
o Centro Escolar Barbosa Du Bocage e os novos pavilhões desportivos, ainda não
saíram do papel ou avançam a um ritmo demasiado lento.
Quando procurado pela equipa do Setúbal Notícias, Fernando
José, presidente da Concelhia de Setúbal do Partido Socialista, vereador na
Câmara Municipal de Setúbal e deputado na Assembleia da República, comentou as
declarações de André Martins acerca dos valores anunciados relativos aos
investimentos em Setúbal.
“O Partido Socialista considera importante todo o
investimento que potencie Setúbal como verdadeira capital de distrito. Contudo,
os anúncios feitos pelo presidente da autarquia refletem mais uma oportunidade
perdida num mandato completamente falhado.
A base do investimento anunciado depende do PRR –
particularmente em habitação e educação, com a reabilitação dos bairros de
habitação pública e a construção (que ainda não está no terreno) de mais
habitação, bem como com a construção do novo centro escolar Barbosa du Bucage.
Os restantes investimentos programados serão feitos com
recurso a financiamento a 20 anos e não parecem ter uma estratégia definida. E
dizemos “programados” porque muito pouco está no terreno – a CDU
parece apostada em concentrar o investimento e o corte das fitas no último ano
de mandato.
Este investimento, que deveria potenciar o avanço do
concelho, irá nalguns casos representar uma oportunidade perdida. É o caso dos
prometidos pavilhões desportivos das Manteigadas e de Azeitão. Estes pavilhões,
se fossem construídos nas escolas, dariam resposta à comunidade escolar durante
o dia e ao movimento associativo em horário noturno. A opção puramente
ideológica de não construir estes pavilhões nas escolas com o argumento de que
essa era uma responsabilidade da administração central prejudica as crianças e
os nossos jovens (que de inverno se mantêm impedidos de praticar desporto na
escola), e reflete uma utilização displicente e ineficiente dos recursos
públicos em que não nos revemos.”
A Ineficiência dos Recursos Públicos
Um dos exemplos mais apontados de má gestão dos recursos
públicos refere-se aos pavilhões desportivos das Manteigadas e de Azeitão. O
Partido Socialista sugere que, se estes pavilhões fossem construídos dentro do
contexto escolar, poderiam ser utilizados tanto pelas escolas durante o dia
como pelo movimento associativo à noite, maximizando a utilidade pública.
Contudo, a escolha da CDU em construir infraestruturas separadas, alegadamente
por motivos ideológicos, reflete uma abordagem pouco eficiente na utilização
dos fundos municipais. Esta decisão prejudica, em particular, as crianças e os
jovens do concelho, que se veem limitados na prática de desporto durante os
meses de inverno.
O recurso a financiamento a 20 anos para a realização de
algumas destas obras é outro ponto que merece atenção. Embora possa aliviar a
pressão orçamental a curto prazo, compromete o futuro financeiro do município,
que terá de lidar com os custos deste endividamento a longo prazo. A falta de
um plano coerente para gerir estes investimentos levanta dúvidas sobre o
verdadeiro impacto positivo que terão em Setúbal.
“O discurso do presidente foca-se amplamente nos projetos
municipais, mas pouco se fala sobre a eficiência na execução destes
investimentos e sobre a real capacidade de Setúbal em atrair investimento
privado sustentável. O concelho continua a apresentar áreas consideráveis por
requalificar, e a estratégia de atração de investimento privado ainda parece
pouco definida. Não podemos ignorar que, mesmo com a injeção de capital do PRR
e com a promessa de milhões em obras, o progresso em áreas como a habitação acessível
e a mobilidade continua aquém das expectativas.” Comentou o Deputado Municipal
Flávio Lança representante do Partido Iniciativa Liberal.
Propaganda ou Gestão Sustentável?
As recentes declarações de André Martins, que celebrou o
“nível recorde” de investimento, contrastam com a perceção geral dos
setubalenses. Apesar do tom otimista do executivo, os cidadãos continuam a
enfrentar desafios nas áreas da habitação, educação e mobilidade. O discurso
triunfalista do presidente da câmara, considerado por muitos como populista,
não parece corresponder à realidade vivida por quem depende dos serviços
municipais.
Para Luís Maurício, deputado municipal pelo Chega, este
mandato tem sido marcado pela falta de ação concreta: “Pouco ou nada foi
feito para atender às reais necessidades dos munícipes de Setúbal”,
afirma. Esta crítica reflete o sentimento de muitos moradores, que veem no
atual executivo uma administração mais preocupada com a imagem pública do que
com a implementação de soluções efetivas.
À medida que 2025 se aproxima, o executivo de Setúbal parece
concentrar-se cada vez mais em criar uma narrativa de sucesso em torno dos seus
investimentos. No entanto, a falta de resultados tangíveis e a ineficiência na
gestão dos recursos públicos lançam dúvidas sobre o verdadeiro impacto destas
políticas no concelho. A questão que permanece é se os eleitores estarão
dispostos a acreditar na propaganda ou se exigir resultados concretos antes de
depositarem novamente a sua confiança nas urnas.
Foto: CM Setúbal