A polémica em torno de alegadas trocas de favores entre a candidata Lina Lopes e um empresário local precipitou um desfecho inesperado: a renúncia da candidata apoiada pelo Chega à presidência da Câmara Municipal de Setúbal.
Lina Lopes, antiga deputada do PSD e até esta manhã candidata do Chega, anunciou a desistência da corrida eleitoral após a divulgação nas redes sociais de mensagens em que um empresário, identificado como Vítor Pilas, a acusa de ter recebido 58.400 euros em troca de promessas políticas. O empresário garante ter pago almoços, jantares, lanches, um alegado empréstimo de 20 mil euros e ainda a compra de um automóvel de 38.400 euros para a candidata.
Nas publicações, o empresário chegou mesmo a dar um ultimato público, exigindo a devolução do montante até ao passado domingo, 17 de agosto, e ameaçando expor provas das alegadas transações.
“Campanha difamatória e chantagem”
Na sua página oficial do Facebook, Lina Lopes rejeitou categoricamente todas as acusações, classificando-as como “falsas” e fruto de uma “campanha difamatória” e de “tentativas de chantagem”.
“Face à campanha difamatória e às tentativas de chantagem de que tenho sido alvo nos últimos dias, tomei a decisão de retirar a minha candidatura à Câmara Municipal de Setúbal”, declarou.
Segundo a ex-deputada, a decisão não representa qualquer reconhecimento das acusações, mas sim a necessidade de “defender o seu bom nome com total liberdade e serenidade”, sem permitir que ataques pessoais continuem a ser usados para atingir o Chega.
Da liderança do PSD à aproximação ao Chega
Lina Lopes tem um passado político relevante no PSD, onde foi presidente das Mulheres Sociais Democratas e uma apoiante de Rui Rio. A aproximação ao Chega aconteceu quando integrou o gabinete do vice-presidente da Assembleia da República, Diogo Pacheco de Amorim.
Com a sua desistência, o Chega perde a figura escolhida para liderar a candidatura em Setúbal, ficando em aberto se o partido conseguirá apresentar outro nome a menos de dois meses das eleições autárquicas.
“Setúbal merece uma campanha limpa”
No comunicado de renúncia, Lina Lopes defendeu que a política local deve ser feita de forma transparente:
“Setúbal merece uma campanha limpa, centrada em soluções para os problemas da cidade, dos setubalenses e dos azeitonenses. Por respeito aos cidadãos, não contribuirei para que estas manobras desviem atenções do essencial.”
Apesar da saída, Lina Lopes reforçou o seu compromisso com o projeto político do Chega e assegurou que dedicará todas as suas energias à defesa judicial da sua honra:
“Confio que a Justiça apurará rapidamente os factos e punirá quem, de forma criminosa, tenta destruir pessoas e descredibilizar instituições democráticas.”
O caso deixa o Chega numa posição fragilizada em Setúbal. Sem Lina Lopes, o partido arrisca-se a disputar as eleições sem candidato próprio à presidência da Câmara Municipal, num concelho considerado estratégico para André Ventura.