O Convento de Jesus, em Setúbal, que acaba de ser reaberto ao público em 2025 após uma profunda reabilitação, soma agora três marcos decisivos na sua longa história: foi o palco da ratificação do Tratado de Tordesilhas em 1494, é considerado um dos primeiros exemplos do estilo manuelino em Portugal, e prepara-se para entrar na corrida à distinção da UNESCO como Património Mundial.
Erguido no final do século XV por iniciativa de Justa Rodrigues Pereira, ama do futuro rei D. Manuel I, o convento foi projetado pelo arquiteto Diogo Boitaca — o mesmo que iniciou o Mosteiro dos Jerónimos. A riqueza ornamental do edifício, com colunas helicoidais de brecha da Arrábida e abóbadas entrelaçadas, espelha de forma notável a identidade estética de uma época marcante.
Classificado como Monumento Nacional desde 1910 e incluído, mais tarde, na lista inaugural das Marcas do Património Europeu, o Convento de Jesus volta agora a ganhar protagonismo, não apenas pela sua importância histórica, mas também pelo potencial de projeção internacional.
Município delineia plano para levar Convento de Jesus à UNESCO

A Câmara Municipal de Setúbal quer dar um passo firme rumo à inscrição do convento na lista do Património Mundial da UNESCO. Para isso, irá avançar com a elaboração de um plano de ação detalhado, em articulação com a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) e a Comissão Nacional da UNESCO, que inclui três objetivos principais: a inscrição na Lista Indicativa de Portugal, a demonstração do Valor Universal Excecional do monumento e a definição de uma estratégia de gestão de longo prazo.
O processo é complexo, mas estruturado: desde a avaliação prévia por peritos internacionais até à decisão do Comité do Património Mundial, passando pela recolha de documentação, investigação histórica, estudo comparativo com outros bens culturais e análise de autenticidade e integridade. A candidatura apenas poderá ser formalizada após o convento constar na Lista Indicativa nacional, etapa que antecede qualquer submissão oficial à UNESCO.
Além disso, será feito um levantamento dos recursos necessários e das possíveis fontes de financiamento, como programas nacionais, fundos europeus ou parcerias com entidades públicas e privadas, de forma a garantir que todos os passos sejam sustentáveis e bem fundamentados, sem compromissos financeiros imediatos para o município.
Setúbal aposta no turismo cultural e na memória coletiva
A valorização do património cultural não é apenas uma questão de memória, mas também de futuro. A candidatura do Convento de Jesus poderá colocar Setúbal no radar internacional, dinamizando o turismo cultural, gerando oportunidades educativas e promovendo o investimento na região. O reconhecimento pela UNESCO representa mais do que uma distinção: é um compromisso com a preservação e valorização do que torna o território único.
A cidade devolve assim ao país, e ao mundo, uma peça histórica de valor excecional. Com três marcos simbólicos no seu percurso — fundação real, valor arquitetónico e recuperação em 2025 —, o Convento de Jesus poderá, em breve, tornar-se o próximo nome português inscrito na história global do património mundial.