Se achava que já tinha visto de tudo na política autárquica setubalense, prepare-se: a Câmara Municipal de Setúbal, liderada por André Martins, assinalou esta quarta-feira a entrada em funcionamento de uma “rotunda provisória” na praia da Figueirinha — composta por 16 barreiras de plástico, em tons branco e laranja, dispostas em círculo. A solução, apresentada como uma forma de aliviar o tráfego intenso nos meses de verão, foi inaugurada com a presença de vários elementos da CDU, incluindo os vereadores Pedro Pina e Rita Carvalho, bem como a vice-presidente Carla Guerreiro.
A cerimónia foi discreta, sem palanque, corte de fita ou qualquer outra formalidade habitualmente associada à inauguração de obra pública. Ainda assim, não passou despercebida — pela sua simplicidade e, sobretudo, pelo carácter improvisado da intervenção, que rapidamente gerou reações nas redes sociais e entre frequentadores habituais da zona balnear.
A praia da Figueirinha, que todos os anos atrai entre 300 a 400 mil visitantes, segundo estimativas não oficiais, é uma das mais procuradas do concelho — e, ironicamente, uma das que melhor infraestrutura apresenta. Com um parque de estacionamento amplo, snack-bars e bons acessos rodoviários, muitos esperavam uma intervenção à altura da sua importância turística. Em vez disso, receberam uma estrutura provisória de plástico, que mais parece saída de uma zona de obras.
Durante o seu discurso, o presidente da Câmara garantiu que a rotunda foi executada “com base no saber e no conhecimento dos nossos trabalhadores” e tem como principal objetivo “criar as melhores condições de circulação aos transportes públicos e também aos transportes particulares na praia da Figueirinha”. André Martins destacou ainda o carácter provisório da medida, reforçando que se trata de uma etapa num “trabalho continuado”.
A reacção dos cidadãos não se fez esperar nas redes sociais. No Facebook, um seguidor comentou: “Se colocar meia dúzia de barreiras de plástico é considerado uma obra, então quem monta LEGO’s é engenheiro”. Outro questionou: “Será que desta vez também custou 500 mil euros?” — numa referência crítica a investimentos passados considerados desproporcionados.
De acordo com a autarquia, a nova rotunda visa facilitar o fluxo de tráfego nas imediações da praia, especialmente quando os parques de estacionamento atingem a sua capacidade máxima, permitindo a inversão de marcha e o acesso exclusivo dos transportes públicos às zonas internas da praia.
Apesar de funcional, a intervenção destaca-se pela simplicidade e contrasta com a dimensão e o impacto turístico da Figueirinha, uma das principais portas de entrada na Serra da Arrábida. Tendo em conta a sua relevância regional, a praia carece de soluções de mobilidade e ordenamento à altura da procura que regista anualmente. Neste contexto, a actual rotunda provisória, ainda que útil, surge como uma medida temporária claramente destoante face às necessidades estruturais mais amplas do local.